quinta-feira, janeiro 29, 2009

Meu querido narigão...

Hoje eu vou contar um pouco da história da minha infeliz infância e de como eu aprendi a amar meu nariz proeminente.

Da infância até a adolescência eu sofri o famoso e inescrupuloso "bullying" escolar. Eu era a típica garota isolada e estudiosa que sentava na primeira carteira, sendo a queridinha dos professores e a odiada pelos colegas.

Dentre todas as ofensas que eu era obrigada a escutar dezenas de vezes ao dia, nenhuma machucava tanto quanto quando me chamavam de "nariguda" e "narigão".

Havia uma garota que orquestrava a sala e fazia todos os meus colegas, eu disse todos, cantarem musiquinha depreciativa. Ela fez da minha vida escolar um inferno por vários anos, pois afastava as pessoas que se aproximavam de mim e, apesar de também ter um nariz grande, poucas vezes foi motivo de chacota entre os colegas, pois ela ria de si mesma enquanto eu ficava quietinha, por vezes fingindo que ignorava para tentar fazê-los parar, outras chorando na frente de todo mundo.

Eu me sentia destruída, andava de cabeça baixa para não chamar a atenção, jogava o cabelo na frente do meu rosto, não suportava que me olhassem de lado, muito menos que tirassem foto desse ângulo. Eu achava que as pessoas não fossem gostar de mim por causa do nariz e que nenhum garoto fosse querer namorar comigo.

Aguentei calada por muito tempo, até que minha mãe começou a perceber minhas notas baixas e meu medo de ir para a escola. Mesmo assim não contava tudo, pois tinha vergonha que ela me defendesse. Não adiantava nada ter carinho e apoio de adultos, pois o mundo de uma criança é aquele com pessoas de sua idade, em que a opinião delas é a única coisa que importa.

Durante essa fase, em alguns momentos tive pensamentos suicidas, mas na maior parte do tempo eu sentia vontade de matar todos os que me causavam mal.
Levei muitos anos para superar a vergonha do meu nariz, que é apenas uma pequena parte do problema. Muitas outras coisas ainda persistem, por isso faço terapia há cerca de 4 anos.

O padrão estético imposto principalmente pela grande mídia é aceito pelas pessoas de forma tão fácil que elas tornam-se preconceituosas e passam a excluir e humilhar quem está fora dele. Todos passam a buscar um rosto simétrico e perfeitinho entupindo-se de maquiagem para tentar esconder as ditas imperfeições, submetendo-se a cirurgias para corrigir "problemas" mais profundos. Como diz o senso comum: tudo pela beleza.

As mulheres, principalmente, são escravas da imposição machista do padrão estético ideal. É para atingir esse padrão que elas passam horas no cabeleireiro, na manicure, na academia, no esteticista. É para atingir esse padrão que elas fazem lipoaspiração, cirurgias, colocam silicone e botox. É uma multidão de pessoas sendo manipuladas, sofrendo apenas para serem aceitas por seus opressores. O pior de tudo é ver os efeitos disso no ambiente escolar, na época em que as pessoas começam a formar suas identidades.

O importante é que hoje eu amo meu nariz e não quero fazer nenhuma cirurgia para remodelar o pobrezinho. Ele faz parte de mim e me torna uma pessoa única. Por que eu destruiria minha identidade apenas para agradar aos olhos de uma sociedade que me julga, que me oprime?

Não mesmo! Eu consegui me libertar.
Hoje eu sou livre para ser eu mesma.
Doa a quem doer.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Quando o mundo é invasivo...


"Você é vegetariana?"
Sou.
Argumento clichê nº1: "Mas não come nem peixe? Abra uma exceção. Peixe faz bem."
Argumento clichê nº2: "É uma dieta muito radical. Precisamos de carne. Assim você vai ficar anêmica."
Argumento clichê nº3: "Mas as plantas também são seres vivos. Elas sentem dor."
Argumento clichê nº4: "Os animais nasceram para nos servir. Deus os criou para nos alimentar."
Argumento clichê nº5: "Antes eles do que eu. Sou carnívoro. Não resisto a uma picanha."
Argumento clichê nº6: [Qualquer piada de mau gosto].

"Você não bebe?"
Não.
Argumento clichê nº1: "Beber um pouco não faz mal. Toma uma cervejinha."
Argumento clichê nº2: "Beber faz a gente ter história pra contar."
Argumento clichê nº3: "Você é fraca. Vá beber leite. Há! Há! Há!"

"Você não vai a baladas?"
Não.
Argumento clichê nº1: "Você precisa se divertir mais."
Argumento clichê nº2: "Você precisa fazer amigos."
Argumento clichê nº3: "Você não vai arrumar namorado se ficar em casa."

"Você não vai se maquiar?"
Não.
Argumento clichê nº1: "Homem não gosta de mulher feia."
Argumento clichê nº2: "Você precisa se amar mais."

Parece até que eu faço força para ser a "alternativa revoltada".
Não há nada pior do que não poder ser você mesma em paz.
De verdade, eu faço de tudo para não ter que discutir esses assuntos.
Eu até me escondo, mas sempre me cutucam.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Acredite na superficialidade, acredite no preconceito.



"Não seria bom viver num mundo sem vaidade?
Um mundo onde a imagem não tivesse importância.
Onde a beleza não fosse valorizada.
Não seria bom viver nesse mundo?"

A propaganda seria perfeita, não fosse o desfecho ridículo...

"Não. Não seria.
Acredite na beleza.
O Boticário."

Isso mesmo. Acredite na superficialidade, acredite no preconceito.
Essa é a campanha (não tão nova, eu sei) da Boticário.
Claro que não poderia ser diferente, é o negócio dela... a indústria da beleza.

É a mídia impondo padrões de beleza e as pessoas perdendo cada vez mais tempo de suas vidas tentando alcançá-los inutilmente.

Além do mais, uma coisa com a qual eu fico extremamente indignada é com esse tipo de preconceito silencioso, que está disfarçado de brincadeira, mas no fundo é uma discriminação tão cruel quanto o racismo.
O preconceito com as pessoas desprovidas de beleza, os feios.

É só ver numa rodinha onde há alguns homens conversando.
Eles adoram falar da mulher alheia, classificar as moças que passam pela rua. A gargalhada é recíproca e ninguém, absolutamente ninguém, acha nada demais em esculhambar pessoas feias.
É como se elas realmente estivessem ali para aquilo. Como se tivessem cometido um delito gravíssimo e estivessem pagando suas penas.

Entre mulheres não é diferente. É só sentar perto de um grupinho de garotas adolescentes e escutar a conversa. "Fulano está a fim de mim. Ele até que é legal, mas é muito feio. Eu não fico de jeito nenhum".
Nesse ponto, de nada vale se os sentimentos da pessoa são verdadeiros, se ela possui bons valores. Ela tem o pior defeito do mundo: é feia.

E agora me vem essa campanha infeliz e machista dizer que a beleza deve ser valorizada.
E infelizmente funciona com a maioria das pessoas. Ah, e como funciona...

Lá se vão as mulheres em uma competição selvagem para mostrar quem é mais artificial, quem conquista mais machos. E os homens sentadinhos, assistindo a selvageria para, ao final, receber o seu troféu auto-oferecido.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Saia da Matrix, querido software.

Minhas pessoas, vocês têm notado a apelação dos publicitários atualmente? Eles estão jogando sujo, muito sujo.

Querem enfiar suas marcas em nossas cabeças apelando para anúncios sentimentalistas.
Querem arrancar nossos choros e nos controlar no palco: dancem marionetes, mas não esqueçam de consumir!

Estão colocando cada vez mais crianças e animais nos anúncios, recorrendo ao nosso maior modelo de vida perfeita: o american way of life. Parece que comercial de margarina agora é referência para outros segmentos.

"Hoje é o dia mais feliz da minha vida, pois abri uma conta no banco X" é o perfil de cliente retardado que eles têm de você.
Para eles você é tão superficial que seu pior pesadelo é descobrir que "o refrigerante Y acabou em todo o planeta".

Afinal, qual a melhor maneira de fazer o cliente gostar da sua empresa?
Apele para o emocional dele, faça com que acredite que sua empresa é boazinha e se importa com ele, não com seu dinheiro, e ainda pose de bom samaritano declarando-se ecologicamente correto.

Ao inferno com essa Matrix!
Não sou um software!
Vocês não me controlam mais!